sexta-feira, 26 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Interagir com a Escrita



Interagir com a Escrita


"- Agora pomos ponto final. Já temos uma frase. Olha esquecemo-nos de pôr vírgula em Era uma vez.
- Ah, esqueci-me do r em jardim."

A conversa passa-se em tempo de trabalho autónomo numa sala do 1ºano. Dois alunos escrevem um texto a pares, outro escreve com o apoio da professora que o vai questionando para construir o texto e ajudar na ortografia.
Uma aluna chama de outro espaço da sala onde está no computador:
"- Ó professora, já escrevi esta palavra 3 vezes e dá sempre erro.
- europa está certo. Deve ser com E, letra maiúscula.
- O que estás a fazer no quadro?
- Estou a escrever para ajudar a N.
- Nós queremos o texto da Margarida. Queremos fazer o texto como o fim do texto dela.
De manhã em tempo colectivo:
- Os presidentes não chamam para os textos? Eu tenho um texto para ler.
- Quem tem texto?
- Eu tenho dois. Posso ler?
- Eu e a L. temos.
- Hoje é o texto do P. para trabalhar."

Actualmente, muitas crianças, quando entram na escola já sabem muito da escrita e da leitura. Folhearam livros, ouviram ler livros, leram as imagens dos livros, ouviram histórias na televisão, viram escrita nos supermercados, nas marcas de cereais, nos jogos, nos brinquedos. A maioria frequentou o jardim-de-infância onde se tem vindo a desenvolver, de forma mais sistemática, um trabalho de abordagem à escrita e à leitura. Muitas identificam letras, o nome, alguns nomes de amigos, de brinquedos. Até sabem palavras que não são do vocabulário comum de muitos adultos. Só recentemente aprendi a palavra Gormiti. Foi um aluno que me escreveu.
Se eles já sabem da funcionalidade da escrita, é necessário promover situações que facilitem um processo interactivo de aprendizagem da escrita e da leitura, isto é, é necessário descobrir a escrita, globalizar palavras, fazer análise, construir outras palavras com sílabas conhecidas, construir e desconstruir a escrita.
A escrita existe como forma de comunicação pelo que, não faz sentido aprendê-la apenas como o domínio de uma técnica. Sabe-se a técnica mas, nem sempre se sabe comunicar pela escrita. Assim, as interacções em sala de aula facilitam o processo de aprendizagem da escrita e da leitura. Discute-se o que se quer escrever e como se escreve. Escreve-se para ler à turma, para trabalhar no grupo. Escreve-se para comunicar logo, escreve-se o que faz sentido enquanto se aprende a técnica.
Neste processo interactivo de aprendizagem da escrita e da leitura, parte-se do que os alunos dizem, das suas vivências, do oral para o escrito. Em pouco tempo há muitas palavras globalizadas, muito suporte escrito que é utilizado para construir outros textos e descobrir palavras, sílabas, letras, o que é igual, o que se lê se se mudar, apagar, acrescentar letras e sílabas. É a fase das “descobertas” que tanto entusiasma os alunos.

Exemplo de descobertas num texto trabalhado em colectivo:

Os Amigos


Era uma vez, quatro amigos: um morcego, um elefante, uma gata e uma avestruz.
Eles foram fazer um piquenique na floresta.
Depois do piquenique foram ao parque da cidade e voltaram para casa.

Sara


Identificadas globalmente algumas palavras e, apesar de vários alunos saberem ler integralmente o texto continuam entusiasmados em dizer as suas “descobertas.
Destaco algumas:



"Em elefante há ele.


avestruz se apagarmos o a e stru fica vez.

fo é um bocadinho de foi.


Piquenique tem duas vezes que.


Em morcego se apagarmos cego e mudarmos o o para fica mar.



Se pagarmos cego e pusermos a fica amor.



Se apagarmos mor fica cego.



floresta- se apagarmos ta fica flores.



- Professora hoje é dia de Oficina de Escrita."